12 de janeiro de 2007

PESQUISA REVELA QUE POLUIÇÃO AFETA CORAÇÃO DOS TRABALHADORES DA CET-SP

Revista Pesquisa FAPESP
Novembro 2006 - Edição 129
Se os níveis de monóxido de carbono atingiram patamares aceitáveis, as emissões de ozônio e de material particulado, a exemplo de zinco, manganês, níquel e chumbo, ainda superam os limites estabelecidos pela legislação brasileira. “Qualquer veículo, mesmo com a tecnologia mais moderna, emite elementos precursores do ozônio, ainda que de forma reduzida”, comenta Simone Georges El Khouri Miraglia, professora do Centro Universitário Senac e pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP.
O controle das partículas também não é nada simples. São emitidas basicamente pelos escapamentos dos caminhões, movidos a diesel, que constituem uma frota ainda mais antiga: quase 70% dos caminhões paulistanos saíram da fábrica há mais de dez anos. Além disso, a cidade de São Paulo é uma passagem para caminhões que vêm de outras regiões do país.
Quem sofre bastante com essa poluição são os fiscais de trânsito. “Os gases sufocam e deixam o rosto preto”, conta Waldir Bravo, que durante anos trabalhou no cruzamento das avenidas do Estado e Mercúrio, no centro de São Paulo, antes de se tornar representante dos funcionários no Conselho de Administração da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Risco de infarto - “Eu ficava seis horas em pé, de frente para a Marginal, em cima da ponte das Bandeiras, com caminhões e carros passando dos dois lados, sugando toda aquela fumaça concentrada, sem ter para onde fugir”, descreve Venceslau Coimbra, técnico de trânsito que participou de um estudo coordenado por Ubiratan de Paula Guimarães, médico do Instituto do Coração (InCor). Em um trabalho publicado no European Heart Journal, Guimarães avaliou 50 trabalhadores da CET – os marronzinhos, por causa da cor do uniforme que usam – que atuavam nas marginais do Tietê e do Pinheiros. Nos meses de inverno, que registram as maiores concentrações de poluentes, os trabalhadores apresentaram pressão alta, diminuição na variação da freqüência cardíaca (o coração fica mais rígido, o que pode ocasionar morte súbita) e inflamação dos brônquios, que acabava por liberar para o sangue uma quantidade elevada de substâncias associadas ao infarto, como a proteína C reativa. “Sugeri à empresa um acompanhamento de longo prazo, para pensar em medidas de prevenção”, afirma Guimarães. “A intenção é aproveitar o trabalho para modificar a legislação e classificar nossa atividade como penosa”, afirma Luiz Antonio Queiroz, presidente do Sindviários, entidade que representa os trabalhadores da CET.
Os efeitos da poluição atmosférica sobre a gestação também são perigosos. Gouveia verificou que a exposição a níveis elevados de poluição (10 microgramas diárias de monóxido de carbono além dos padrões aceitáveis, por exemplo) durante o primeiro trimestre de gravidez pode contribuir para que os bebês nasçam com peso reduzido – 20 gramas a menos, em média. O estudo, publicado no Journal Epidemiology Community Health, comparou os dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc) com os registros de poluição anotados pelas estações medidoras da Cetesb nos diferentes meses do ano. “O monóxido de carbono provoca baixa oxigenação do sangue e o material particulado prejudica a vascularização da placenta”, explica Gouveia.
A poluição em excesso parece interferir também na definição do sexo dos bebês. Em regiões de São Paulo mais atingidas pelos poluentes, há 2% mais meninas recém-nascidas do que meninos; em áreas de poluição menos intensa, o placar se inverte e nascem 3% a mais de garotos. “Reproduzimos a situação em laboratório, com camundongos, e os resultados foram semelhantes”, reforça Saldiva, autor do trabalho, que será publicado na Fertility and Sterility. Os gases e as partículas tóxicas devem afetar os testículos. O cromossomo Y, que define o sexo masculino, seria mais suscetível a lesões, permitindo uma relativa hegemonia do cromossomo X, responsável pelo sexo feminino.
Os especialistas concordam: a poluição atmosférica seria uma fonte a menos de preocupações para os paulistanos caso algumas medidas elementares fossem implementadas. E a implantação de transporte público em quantidade e com qualidade, a criação de mais corredores de ônibus e a ampliação das linhas do metrô, a modernização da frota de caminhões movida a diesel e a aplicação efetiva do programa de fiscalização veicular somada à educação ambiental. “Falhamos no diálogo com as administrações”, observa Saldiva. “Produzimos muitos e bons estudos, mas está na hora de transformar esses trabalhos em políticas públicas.”

(Fonte: Site do SINDVVIARIOS)

Alberto Macário
AFCET-SP

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