6 de fevereiro de 2007

KASSAB AGRIDE MICRO EMPRESÁRIO EM POSTO DE SAÚDE



Mesmo depois de ser chamado de "vagabundo" e de ter sido expulso aos berros de uma unidade de saúde pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, na manhã desta segunda-feira (05), o autônomo Kaiser Paiva Celestino da Silva disse ao G1 que não guarda rancor. “Eu perdôo o prefeito. Como cristão, tenho que perdoar. Não guardo rancor e já perdoei inimigos. O sentimento negativo só atinge a mim”, afirmou ele, que é evangélico.

A repentina fama em nada atrai o paulistano que há 18 anos trabalha como designer gráfico. Kaiser tem uma pequena oficina no sobrado onde mora, na Vila Zatt, Zona Norte da capital, e fabrica placas de publicidade, faixas, banners, toldos e luminosos.

Por ironia, um de seus trabalhos foi feito justamente para Kassab nas eleições de 1998, quando o atual prefeito concorria ao cargo de deputado federal. “Fiz uma faixa com o nome dele para o comitê de campanha. Ajudei esse povo e agora eles cospem no prato em que comeram”, afirmou Kaiser, que ainda não se recuperou do susto.


Após enfrentar filas posto de Assistência Médica Ambulatorial (AMA), em Pirituba, na Zona Oeste, nesta segunda-feira, Kaiser deparou-se com Kassab. O prefeito havia convocado a imprensa para a inauguração da unidade e acabou perdendo a cabeça quando o designer gráfico reclamou que está prestes a falir por causa da Lei Cidade Limpa, que proíbe a publicidade externa na cidade.

“Não tenho mais clientes. O aluguel na minha casa está atrasado há três meses e a luz também, sujeita a corte”, contou Kaiser. “Passei o dia inteiro com dor de cabeça e depois dessa história minha pressão subiu para 14 por 9”, relatou. Casado, pai de um menino de 7 anos e de uma menina de 5, o autônomo tentou justificar seu ato e nega que tenha planejado tudo.

“Eu apenas desabafei contra essa lei radical. Estava me defendendo. Não planejei nada disso. Você acha que eu ia manifestar com meu filho junto?”, perguntou ele, com a voz embargada. Kaiser, acompanhado do primogênito, esteve no posto de Pirituba para levar exames de seus filhos e tentar tratar uma dor de dente. Ficou uma hora na fila e não foi atendido.

“Tinha toda aquela pressão. A crise financeira e a questão do hospital. Eu já tinha ido lá para arrancar o dente e mandaram voltar. Se tivesse como pagar um plano de saúde, não passaria por essa humilhação”, explicou. Para ele, mais humilhação do que esperar por atendimento, foi envolver-se na briga com o prefeito.

“O que sinto agora é constrangimento e vergonha pelo o que ele fez. Se eu soubesse que a história ia ter tanta repercussão, não teria falado nada. Nesse ponto me arrependo, mas não estou arrependido de estar me defendendo”, disse Kaiser.

Ao contrário da prefeitura de São Paulo, que estuda qual medida tomar contra o trabalhador, Kaiser se diz perdido. “Eu não sei se vou processá-lo. Só vi as imagens (na televisão) bem depois e meus amigos estão me aconselhando a entrar na Justiça, mas ainda não me decidi”, concluiu.

(Fonte: Site G1)

Alberto Macário
AFCET-SP