7 de novembro de 2010

RADARES QUE NÃO PERDOAM

Se após a meia-noite, em nome da sua segurança, você não para no farol vermelho, saiba que esse hábito poderá lhe custar R$ 191 e sete pontos na carteira de habilitação. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) instalou recentemente 12 radares fixos capazes de flagrar os motoristas que desrespeitarem a sinalização entre 0h e 5h. Os novos radares "olho de gato", que enxergam à noite, estão espalhados na região central e também na periferia da capital. A justificativa do órgão é aumentar a segurança no trânsito. Já motoristas alegam que o risco de assaltos é que crescerá.
"É muito arriscado. Há muitos bandidos nas esquinas e, por isso, não paro nos faróis. Acho uma fria", afirma o taxista Valdir Gonçalves, de 60 anos, que sai de casa para trabalhar todos os dias antes das 5h. "É nessa hora que eles assaltam. Entre uma coisa e outra, prefiro levar a multa mesmo", diz o taxista, cuja preocupação são os pontos na carteira. "Sem ela (a habilitação), não sobrevivo."

A questão gera polêmica também entre especialistas. O presidente da Associação Brasileira de Monitoramento e Controle Eletrônico de Trânsito (Abramcet), Silvio Médici, defende que não se pode infringir a legislação de trânsito com o argumento da segurança. "É preciso atender a lei. E o estado, obviamente, garantir a segurança nas vias públicas. É preciso resolver as duas questões", diz o presidente da Abramcet.

"São 53 mil pessoas morrem por ano no trânsito no Brasil. Na capital, certamente o número de mortes em acidentes é o maior do que o de vítimas de assalto", argumenta Médici.
Fora da realidade / O consultor e especialista em trânsito Joseph Barat pondera que há uma "falta de entendimento" ao cumprir a legislação a risca, multando quem ultrapassa o farol fechado, numa cidade como São Paulo."A legislação não conhece a realidade urbana que é a insegurança em São Paulo. Ao multar o motorista, coloca em risco uma pessoa, que se sente ameaçada pelos assaltos", observa.

O próprio especialista não para no sinal fechado após à meia-noite. "Eu quase paro, mas não chego a parar não", admite. Segundo ele, a solução para conciliar a segurança no trânsito e não expor os motoristas aos assaltos é adotar o sinal piscante em cruzamentos não muito movimentados. "É uma advertência para o motorista. Ele não para, mas também não cruza direto", afirma.

Como o que está valendo são os radares que multam durante a madrugada, o capitão da Polícia Militar, José Elias Godoy, especialista em segurança, recomenda que o motorista diminua a velocidade, mesmo à distância, assim que ver o sinal amarelo ou vermelho. "O que acontece é que as pessoas correm e ficam paradas no farol. É preciso adquirir esse novo hábito ao dirigir e observar os arredores. Os assaltantes se aproveitam do fator surpresa", diz.

CET trabalha para aumentar a segurança

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informou que existem 139 radares espalhados pela cidade, ligados 24 horas, com capacidade de fiscalizar qualquer avanço de semáforo e de faixa de pedestre. Porém, apenas 12 têm tecnologia que permite a captura de imagens noturnas.
A companhia explica ainda que, nestes pontos, o ciclo dos semáforos (verde, amarelo e vermelho) durante o dia é de no mínimo 65 segundos e no máximo de 3 minutos. Durante a madrugada os tempos são reduzidos, justamente por conta da segurança. Porém, a companhia de tráfego não informou em quanto caiu o tempo de espera.

Além disso, a empresa explica que até 10% dos semáforos existentes na cidade funcionam em amarelo intermitente entre 0h e 5h. O sistema opera desta forma desde 1980. Para determinar quais locais podem ter este tipo de sinalização são levados em consideração o tipo de cruzamento, a existência de corredores de ônibus, entre outros aspectos.

A CET ressalta que todo o trabalho que desenvolve tem em primeiro plano a preocupação com a segurança. Entre as medidas destacadas pela companhia neste sentido estão: a redução do limite de velocidade em diversas vias, a implantação de motofaixa em alguns corredores e o aumento do número de radares.

Fonte: Dário de São Paulo